Coimbra, 8 de Janeiro de 1355

Amada Inês,

Perdi-me no meio de tantos pensamentos, tanta raiva, tanta angústia, tantas lágrimas, tanto sofrimento... Resolvi escrever-te esta carta para me tentar encontrar, já que estou perdido, junto ao abismo, sem saber se me atiro ou fico em cima.
Sei que junto a ti encontraria a resposta. Mas tu já não estás aqui. Tiraram-te do mundo. Roubaram-te de mim... Mas não sabiam eles que assim te punham para sempre em mim.
A tua morte foi como se me tivessem alvejado o peito, mas continuando vivo com tal dor profunda.
Como foi possível não terem misericórdia de ti? Tu, tão bela e serena, minha amada. Como foi possível não terem ao menos misericórdia dos nossos filhos? O meu próprio pai. Como fora ele capaz de fazer isso? Como fora ele tão cruel? Como fora ele capaz de me tirar a coisa que eu mais amava? A única pessoa que me faz feliz, tu!
Não consigo arranjar respostas para tais interrogações. Ingénuo foi o que eu fui. Ingénuo por te ter deixado sozinha nas mãos de quem opera friamente. Ingénuo porque não percebi até que ponto a determinação de el-rei meu pai o levava. Essa determinação sobrepunha-se à minha felicidade contigo.
Oh minha Inês!
Não tenho mais palavras para este sofrimento que estou agora a sentir...

Até à eternidade...Inês

Pedro


Lisboa, 13 de Outubro de 1356


Amada Inês,


Desejo fazer justiça pelo teu nome. Desejo vingar a tua morte! Sacrificar aqueles que não tiveram misericórdia de ti. Fazê-los arrependerem-se do que te fizeram.

Irei procurar e perseguir aqueles que te mataram.

Meu pai já está a pagar pelo mal que nos fez. Suas terras, a norte do Douro, estão sendo atacadas por mim. Alcançarei também a cidade do Porto!

Justiça será feita!


Até a eternidade... Inês


Pedro





Lisboa, 28 de Setembro de 1361


Amada Inês,


Fiz justiça ao teu nome! Aqueles que te mataram, mortos estão!

Desculpa, Inês, mas não consegui capturar o terceiro assassino. Fugiu para França. Quantos aos outros dois consegui-os através de uma troca de prisioneiros com o rei de Castela.

Fi-los arrependerem-se do mal que te fizeram. Sofreram severa mas justamente.

A minha raiva e fúria era tanta que lhes fora retirada o coração, a um pelas costas ao outro pelo peito. Assisti a tudo sem pena alguma. Nem a consciência me pesou!

Quando lhes fora retirados os corações a ambos a minha alma gritou de satisfação, de vitória, de gosto, de gozo, … Finalmente a tua inocente morte foi vingada pelas próprias mãos.

Senti-me como se estivesse mais leve, consegui tirar a raiva e o sentimento de culpa que tinha.

Mas a partir de hoje tudo vai ser diferente, vou tentar ser o “pai” para Portugal, já que não consegui ser um “marido” para ti.

Não vou deixar que Portugal morra nas mãos sejam de quem for.

A tua ausência mata-me… mas os meus pensamentos contigo fazem-se viver de novo.


Até à eternidade... Inês


Pedro




Lisboa, 27 de Julho de 1362


Amada Inês,


Não suporto a minha vida sem ti. Tenho sido constantemente atormentado por pesadelos durante a noite. Vejo-te nos meus sonhos, morta, mas a perguntar-me porque te deixei naquele dia. Durante o dia vejo vultos, assemelhando-se a ti. Chego a pensar que és tu, volto a olhar, mas não és. Tu ainda me persegues… e eu não consigo ficar indiferente a isso.

É mais fácil lutar contra um exército do que contra um fantasma.

As pessoas acham que sou louco, mas não, eu não sou louco. Simplesmente tiraram de mim a pessoa que mais amava neste mundo.

Não sabes o quanto sofrimento está dentro de mim… se tu soubesses, minha Inês, o quanto tenho amargamente sofrido com a tua ausência...

Mas um dia nos encontraremos e o nosso amor permanecerá para sempre e nada, nem ninguém nos vai separar. Nunca mesmo!

A palavra “amo-te” não chega para dizer o quanto te amo. Sinto tanta falta de ti, dos teus abraços, dos teus conselhos, dos teus beijos, dos teus medos… tanta falta.


Até à eternidade...Inês


Pedro





Lisboa, 3 de Janeiro de 1367


Amada Inês,


Sinto que me estou a ir aos pedaços.

Parte de mim já não existe, desde que te levaram de mim. A outra parte lamenta-se noites a fio. Muitos dos dias que passo ninguém vê um sorriso em meu rosto. Mas, por outro lado, tornei-me um rei atento ao meu povo. É com ele que tento preencher o resto dos meus dias porque se não o meu pensamento esquiva-se sempre para ti!

Perdoa-me Inês, se algum dia errei, se fiz alguma coisa mal, mas tenta compreender-me, não tive apoio quando precisei, não tive conselhos quando pedi, não tive um ombro onde chorar porque deixei de confiar nas pessoas. Não tive…

Não tive nada, só te tinha a ti! Mas tu foste e eu fiquei. Tive de viver enquanto podia, mas acho que o dia de eu partir está próximo.

Sinto-me mais cansado do que nunca.

Sinto que o meu corpo já não me responde com a mesma força do que antigamente.

Sinto que a minha mente já não é a mesma.

Sinto-me fraco e a desfalecer.

Sinto também que finalmente vou descansar. Repousar serenamente, esperando o dia em que nos vamos reencontrar. O dia em que nos vamos poder olhar olhos nos olhos... Até lá o tempo continua a querer não passar, pois desde que morreste o tempo parece parado, mas a dor continua forte. Dizem que o tempo acaba por curar todas as feridas, mas talvez por não passar ainda não tenha curado a minha.


Até à eternidade... Inês


Pedro