Lisboa, 3 de Janeiro de 1367


Amada Inês,


Sinto que me estou a ir aos pedaços.

Parte de mim já não existe, desde que te levaram de mim. A outra parte lamenta-se noites a fio. Muitos dos dias que passo ninguém vê um sorriso em meu rosto. Mas, por outro lado, tornei-me um rei atento ao meu povo. É com ele que tento preencher o resto dos meus dias porque se não o meu pensamento esquiva-se sempre para ti!

Perdoa-me Inês, se algum dia errei, se fiz alguma coisa mal, mas tenta compreender-me, não tive apoio quando precisei, não tive conselhos quando pedi, não tive um ombro onde chorar porque deixei de confiar nas pessoas. Não tive…

Não tive nada, só te tinha a ti! Mas tu foste e eu fiquei. Tive de viver enquanto podia, mas acho que o dia de eu partir está próximo.

Sinto-me mais cansado do que nunca.

Sinto que o meu corpo já não me responde com a mesma força do que antigamente.

Sinto que a minha mente já não é a mesma.

Sinto-me fraco e a desfalecer.

Sinto também que finalmente vou descansar. Repousar serenamente, esperando o dia em que nos vamos reencontrar. O dia em que nos vamos poder olhar olhos nos olhos... Até lá o tempo continua a querer não passar, pois desde que morreste o tempo parece parado, mas a dor continua forte. Dizem que o tempo acaba por curar todas as feridas, mas talvez por não passar ainda não tenha curado a minha.


Até à eternidade... Inês


Pedro

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